O Circo Multicor movimentou os Caetanos, em Beberibe, comunidade com ascendência quilombola. Teve festival de leitura, mostra de cinema africano, festival literário e luau sobre o poeta negro Solano Trindade, palestra, capoeira, reisado, pastoril, samba… Todo mundo sabe que circo não para, pois o espetáculo tem continuar. Com o Circo Multicor não é diferente: sempre tem mais uma atividade a ser feita em prol de uma infância livre dos preconceitos. No período de novembro a dezembro de 2015 ainda são realizados os Festivais de Leitura, que objetiva aprofundar o conhecimento da literatura afro-brasileira e o dizer dos seus autores, de forma a favorecer as discussões acerca dos problemas raciais enfrentados por nossas crianças e adolescentes. Essa é a essência do Projeto Beberibe Multicor com o seu Circo, que tem levado reflexão sobre as situações de preconceito, dentre eles o racismo na infância, às diversas comunidades e escolas do município. Nos Caetanos, o Multicor trabalhou o poeta negro Solano Trindade e "sacudiu" a comunidade de ascendência negra com festival de leitura, mostra de cinema africano, festival literário, luau, palestra, capoeira, reisado, pastoril, samba… O trabalho inicial foi realizado na Escola Municipal José Roldão, localizada no antigo reduto quilombola dos Caetanos, onde a ancestralidade se manifesta não apenas no fenótipo, mas no expressivo gingado dos passos da capoeira, no samba de roda, na denúncia registrada nos poemas e cordéis dos alunos e nas apresentações e representações que ali são produzidas. No dia 25 de novembro, houve a culminância do trabalho que foi realizado em sala de aula ao longo do mês. Durante o dia, ocorreu a 1ª Mostra de Cinema Africano, com a participação dos convidados Luiz Bernardo (coordenador nacional do Fórum do Negro), Soraia Colaço (socióloga, escritora e mestranda em Educação e Ensino da UECE), e Silas de Paula (professor da UFC e fotógrafo profissional). Após os filmes, alunos e convidados realizaram uma discussão sobre a importância do combate ao racismo. O pátio da escola estava transformado num verdadeiro memorial, com especial destaque para a participação da família Trindade, dos Caetanos. Ali, nas paredes da escola, estavam expostos os resultados do Festival Literário que trabalhou a obra do autor e poeta negro Solano Trindade. Daí, também, entender a participação dos Trindade, cujo sobrenome alude ao famoso poeta! O encerramento da manhã contou com samba de roda, um verdadeiro espetáculo de beleza e ginga que revela matematicamente 100% da influência negra em nossa formação! À noite, a festa ficou por conta do Circo Multicor com a realização do Luau Literário envolvendo comunidade, escola e profissionais da Secretaria de Assistência Social e Cidadania de Beberibe. Como o palco do Multicor não é o palco qualquer, o enredo da vida de Solano Trindade se misturou com a história da gente da comunidade. Observava-se o orgulho da cor (e da história!) nos passos do reisado, das danças, do pastoril, da poesia que realçava o "Sou negro!". O palco do Circo Multicor deu som ao grito daqueles que queriam desabafar e denunciar o preconceito sofrido durante uma vida toda. Outros espaços trabalharão seus festivais e seus autores, mas algo fica certo: no dia 25 de novembro de 2015, os Caetanos transpiraram sua história e o Circo Multicor encerrou a noite num cenário de alegria, gingados e rodopios majestosos! E, com certeza, uma ação assim não merece ponto final, mas reticências para o próximo ato…